Vida Dura

Mesmo no Algarve a bulir que nem um animal, não quis deixar de partilhar com vocês as minhas vivências a sul do país. Aqui trabalha-se tão arduamente que hoje acabei de apanhar o segundo escaldão da temporada, enquanto deitava um olho ao areal da praia a conferir se apareciam famosos. Mas nem tudo são rosas nesta minha estada algarvia. É que conseguir um jantar normal por estas bandas é quase impossível em tempo de Verão. Aqui fica o relato.
Depois de um dia extenuante de trabalho, dou por mim à procura de comidinha pelos lados de Quarteira. A hora já era avançada e a fome muita, por isso, eu e o meu colega - fotógrafo - decidimo-nos pelo primeiro restaurante que nos apareceu à frente. Erro crasso. Um bocadinho mais de atenção ter-nos-ia feito virar costas num segundo, mas a fome era tanta que não deu para pensar muito no assunto.
Abancámos na esplanada e enquanto deitavamos um olhinho à ementa o pior aconteceu. Mesmo a dois passos, um dos empregados do dito restaurante assobiava a todas as gajas - com ou sem bigode - que passavam na rua e mandava-lhes beijos à distância. O jantar prometia, mas o pior foi quando o prórpio dono do pardieiro resolveu puxar de uma cadeira e sentar-se mesmo ao nosso lado para saber de onde eramos e afim. Chateou-nos até mais não e só nos largou o pé quando o jantar dele chegou a uma das mesas da esplanada. Aí virou-nos costas e com uma distinta lata pôs-se a fazer zapping na televisão do restaurante, indiferente a se os clientes estariam ou não a gostar do que viam.
Mas há mais. Depois de escolhermos a garrafa de vinho que iria acompanhar o nosso peixinho grelhado, outro empregado apressa-se a chegar com a dita na mão. "Eficiente", pensámos. "Afinal nem tudo é mau aqui". Ah pois não. Nunca tinha visto nada assim. É que uma coisa é sermos enganados na surra, outra é passarem-nos a perna mesmo à nossa frente. Mas não percamos o fio à meada. O sr. chegou, de garrafa na mão, e atirou: "Bem geladinha, como manda a tradição". Nessa altura, sorri de contentamento, mas a minha feliciadade só durou até o xô algarvio servir a vinhaça. Estava completamente natural.
Era demais, mas a explicação foi bem pior. "Ah, pois está. Peço imensa desculpa. Mas é que nós temos uma arca que funciona bem e outra que está meio estragada. Este vinho estava na avariada, por isso não gelou como devia. Mas não se preocupem, tudo se resolve".
Nessa altura pensei que ia trazer outra garrafa, essa bem gelada, mas qual quê. Minutos depois apareceu com a mesma e disse. "Tenho um truque para estas coisas". Aí confesso que tive medo. "Deitei sal no gelo, acelera o arrefecimento", explicou tal-qual um perito nato na matéria. Pois, mas acontece que a espeteza saloia deve mesmo é ter deitado sal no vinho. Estava uma pilha!
Com este quadro de miséria, achámos por bem despedirmo-nos sem comer sobremesa. Assim que pagámos a conta, dissémos adeus ao empregado atrevidote que, mal virámos costas disparou: até a barraca abana!
Portanto, se querem comer bem, não visitem o Sr. António em Quarteira. É um conselho!