No país dos intrujas
Antes de ter posto os pés no aeroporto de Bucareste, julgava-me um bocadinho cigana, capaz de passar a perna aos senhores das lojas, de trocar etiquetas para levar para casa um par de calças mais barato, ou mesmo trazer para Portugal uma colecção de bonés e perfumes de Glasgow sem que ninguém desse por nada. Mas a visita à Roménia abriu-me os olhos... Caiu o mito. Foi na verdadeira terra dos ciganos que me apercebi de que não passo de uma menina, inofensiva, honesta e um alvo apetecível para a intrujice dos outros.
Em Bucareste é impossível não levar a boca em qualquer coisa – quanto mais dar a boca a um deles. E há pessoas que sabem disso melhor do que eu – os ditos azarados do costume.
Assim que o nosso avião, pink da wizzair, aterrou no aeroporto de Bucareste (se é que aquela coisa pode ter esse nome) houve logo alguém com motivos de queixa. Mostrámos os vistos, saímos para apanhar as nossas malas, mas faltava uma. Alguém tinha levado a bagagem do C. para longe. A viagem começava bem!
Tratou-se das papeladas necessárias e seguimos caminho para o nosso hotel. O relógio já marcava as seis da matina e decidimos ir de táxi, até porque o z. tinha visto num guia da cidade que, do aeroporto até ao centro, era uma pechincha. Mas não para turistas, claro está. O nosso amável fogareiro fez questão de dar voltas e mais voltas a Bucareste e, quando chegámos ao Hotel Comfort o taxímetro marcava, conversão feita, qualquer coisa como 40 euros (bem, nas contas dele era 65, mas acabou por se render às evidências das nossas inteligentes cabecinhas).
Ainda protestámos, mas pouco podíamos fazer. Se não pagássemos, não havia malas para ninguém: a bagageira estava trancada a sete-chaves.
Fiquei tão irritada com este episódio que, logo no pequeno-almoço, pensei servir a minha pequena vingança. O repasto custava seis euros, mas decidi que – e com a confusão que estava instalada junto à caixa registadora – sairia sem pagar. “Não se vão ficar a rir”, disse confiante, acabadinha de fugir da zona. Só que os macacos lá do pardieiro não andam a dormir e, enquanto esperávamos no hall para que nos limpassem os quartos, um deles veio ter comigo. Pensei que fosse fazer conversa da treta, mas devo ter ficado branca quando o cabrão disparou no seu inglês merdoso. “You don’t pay”. Ainda tentei inventar desculpas, jurar que tinha pago, mas a verdade é que os seis euros saltaram da carteira. A vergonha, essa, era um dano irreparável no meu currículo.
Transilvania Tour
Com isto parece que quero dizer que detestei a Roménia. Nada mais falso. A viagem à Transilvânia valeu bem a pena. Apesar de o castelo farsola do drácula não passar disso mesmo, de uma fraude, a paisagem enchia o olho. Para quem vem do país do sol, ver neve é sempre coisa para nos fazer voltar a ser putos. Enchemos as luvas de neve, atirámos bolas uns aos outros e divertimo-nos como gente grande... Até que mais um episódio de intrujice assombrou a viagem.
Apanhámos o combóio até Brasov e, depois de abandonarmos a gare, fomos bombardeados por um bando de taxistas, que nos faziam ofertas generosas para nos levarem ao drácula. Dava cinco euros por pessoa e, já escaldados das primeiras experiências, fizemos uma única exigência. Pagaríamos metade do valor combinado à ida, e a restante quantia no caminho de regresso.
Só que houve quem decidisse confiar na simpatia dos ‘fugas’ e desse a nota toda logo na partida. O desfecho da história já todos devem estar a imaginar: quando os nossos amigos voltaram do passeio pelo Castelo, o senhor já se tinha posto a milhas... À boa maneira romena!
No meio deste circo, tudo tem uma explicação. É quase uma questão de sobrevivência. Já sabia que o país era pobre e que eles conseguiam bater o meu reles ordenado, pela negativa. Mas fiquei abismada quando parámos numa estação de combóio e, à conversa com uns senhores ditos das obras, descobrimos que ganhavam 1.30 euros por dia (sim, por dia!!). A Carlita fez uma boa acção e deu-lhes um maço de cigarros, mas o que apetecia mesmo era distribuir dinheiro-vivo por aquela gente toda.
No final de tudo, valeu o excelente espírito de grupo, a vitória do Ica, o convívio com os ultras da terra, os almoços e jantares ao preço da chuva, o giraço da loja do Steua e... o aeroporto de Barcelona. É que depois de uma semana de intrujice, tínhamos mesmo de nos vingar em qualquer lado. O free shop é que pagou as favas!
By RuRu
5 comentários:
Já vos disse que odeio tudo o que tenha a palavra Roménia?
By Amadora
Calai-vos com a Roménia, seus... seus... GRRRRRR!
O Drácula devia ter-vos sugado o sangue todinho :P
Ou é de inveja ou é de mágoa!
Já apaguei uns quantos comentários de gente anónima, caso não tenham reparado e alem de este blog começar por A não é o adeptos aka megafone, aqui quem tem medo compra um cão, ou então passe na luz com uma pistola para nos matar (hahahahahahahahaha) sim, porque eu estou cheio de medo, a falta de colhões é propicia dos fracos de espirito, e disso existe por ai tanta gente... Um bem haja a todos os que me odeiam, beijinhos.
By Amadora
EH
Tour inesquecivel.
Patroinha esqueceste-te de uma referencia super importante, entao não falaste do primo vazilev... o mestre da maquina fotográfica!
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